Estimular a alimentação saudável, resgatar a autoestima e fortalecer a relação entre o ser humano e a natureza, mesmo nos grandes centros, integram os objetivos do Programa Horta e Alimentação Saudável. Trata-se de um dos eixos temáticos do projeto Ambientes Verdes e Saudáveis (Pavs), da Secretaria Municipal de Saúde, que conta com 97 hortas comunitárias e, atualmente, a participação de 2 mil pessoas.
Uma delas é o aposentado Antenor Gois, 83 anos, morador do bairro de Santa Terezinha, na Zona Leste. Ele é voluntário da horta na Unidade Básica de Saúde (UBS) local e sente os efeitos benéficos deste “resgate” desde 2013, quando deixou a cidade de Consolação, em Minas Gerais, para fazer fisioterapia e foi diagnosticado com depressão.
“Lá, eu morava em uma chácara e quando mudei para São Paulo sentia uma saudade muito grande, um aperto no peito, não foi fácil. Estava longe das minhas plantinhas, minha terrinha. Então, durante uma consulta na UBS, vi aquele pedacinho de terra vazio e meus olhos brilharam. Junto com a gerência do local e iniciativa do Programa Ambientes Verdes e Saudáveis, cercamos tudo de madeira, pintamos, fechamos com tela”, recorda-se Gois.
Ele conta que, depois de cuidar do terreno, passou a frequentá-lo todos os dias, para plantar e, depois, para colher.
“Cultivamos alface, almeirão, salsinha, mandioca, berinjela e até milho, em quase 30 metros quadrados. Tudo com as mudas que trago de Minas Gerais. Mexer com a terra é muito bom. Lembro de casa, me dá vontade de viver. Apesar de vacinado, hoje estou afastado do dia a dia, por causa da pandemia, mas não deixo de passar para conferir como anda o trabalho e mal vejo a hora de retornar à minha atividade”, afirma Gois.
Sobre o programa
Criado em 2009, o Ambientes Verdes e Saudáveis tem como um dos pilares as ações educativas, que abordam hábitos alimentares saudáveis como o consumo de hortaliças, aproveitamento integral dos alimentos, uso de ervas aromáticas para diminuição da utilização de sal e redução dos produtos ultraprocessados.
E é neste pilar que o Centro de Crianças e Adolescentes Georgina do Carmo Moreira, localizado na região do Ipiranga, Zona Sul, se apoia. A entidade oferece esta prática extracurricular para 90 educandos, de seis a 14 anos de idade, que frequentam o local antes ou depois de irem à escola.
De acordo com Rosangela Carmem, auxiliar de serviços gerais da instituição, a horta, implantada há cerca de um mês, tem sido muito importante para o crescimento e amadurecimento das crianças e adolescentes.
“Criar e cultivar uma horta proporcionou aproximação entre os funcionários, educadores e educandos. Aproveitamos um terreno da Prefeitura, que ainda não estava sendo utilizado, para sanar a necessidade de trabalharem a alimentação de maneira saudável e estar em contato com a natureza. Eles mesmos aram a terra, cultivam e acompanham o crescimento de tudo o que plantam. Os alimentos saindo da horta para a panela os encantou”, explica Rosangela.
Pertencimento e participação
Segundo a coordenadora do Pavs, Eunice Emiko Kishinami de Oliveira Pedro, ao incluir temas ambientais nas questões de saúde, o programa oferece uma visão ampla sobre os principais problemas enfrentados no cotidiano das pessoas e do planeta, como pandemia, mudanças climáticas e exclusão social.
“Nosso principal papel é o cuidado à saúde individual e coletiva, com fomento às práticas mais sustentáveis. Nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde) os profissionais da linha de frente podem utilizar as hortas como espaços antiestresse, para relaxamento e motivação profissional. Para a população, a integração do cidadão aos espaços públicos desperta o sentimento de pertencimento à cidade, participação e empoderamento”, diz.
Quem quiser ser voluntário dessas atividades deve procurar uma UBS com e entrar em contato com o agente de promoção ambiental local. Em razão da pandemia, no momento os grupos e atividades estão reduzidos.